A ÚLTIMA VISITA DE MEU SOGRO

A semana havia começado conturbada para Silvia: muitas provas para corrigir na escola onde trabalhava, e o pai de seu noivo, pelo qual tinha grande estima, estava muito doente. Por isso, mesmo cheia trabalho, antes de ir para a escola, ela  dava um jeito de  visitar o  sogro. Mas na quinta-feira, como chovia muito, decidiu não  visita-lo,  pois teria que aplicar provas para  duas turmas de alunos, e não conseguiria chegar a tempo. Assim, Silvia avisou o noivo que visitaria seu pai na sexta, e foi de casa direto para o trabalho.
Para a surpresa de Silvia, ao chegar na escola, a coordenadora chamou-a e disse: “ tem um senhor lá na sala lhe esperando. Já disse para ele que em meia hora haverá uma prova e a sala precisaria estar livre. Mas ele disse que era seu “paizão”, e que não levaria nem um minuto para falar com você. Nem sei como entrou lá, mas como é seu pai, deixei ele ficar. Seja breve pois os alunos já estão chegando. ”
Silvia ficou bastante intrigada; “Paizão” era a maneira carinhosa pela qual chamava o sogro, pois realmente desenvolvera uma relação similar a de pai e filha com ele nos últimos 5 anos. Mas ela pensou  tratar-se de uma brincadeira, e dirigiu-se até a sala de aula. Ao abrir a porta,  percebeu que não havia ninguém lá dentro.  Intrigada, foi até o fundo da sala, sentou-se numa das últimas cadeiras e baixou a cabeça, perguntando-se se a coordenadora não teria se enganado.
Ao levantar a cabeça, seu coração disparou: sentado em sua mesa na entrada da sala, o pai de seu noivo olhava-a sorridente. Por um minuto, sua mente “deu um nó”; como ele podia estar ali tão bem, se o encontrava entubado num leito de hospital? Poderia alguém recuperar-se tão rápido de um dia para o outro?
Ainda sem entender nada, ele esboçou a intenção de levantar-se de sua cadeira, quando o homem  fez um gesto carinhoso, que costumava fazer para ela e para o filho: beijou  a própria mão duas vezes e apontou para ela , deu um sorriso e em seguida,  virou-se para a parede e desapareceu bem na sua frente. Silvia segurou-se na própria cadeira como se quisesse evitar um desmaio!
Mas apesar de  estar muito assustada, aquela aparição lhe transmitira uma estranha paz interior. Levantando-se da cadeira, ela foi até a mesa onde o homem havia aparecido e falou, enquanto derramava uma lágrima: “vá em paz meu querido sogro. Cuidarei de seu filho! ” Em seguida, dirigiu-se até a sala da coordenação, e falou em prantos para duas professoras que estavam lá: “meu sogro faleceu! ” Minutos depois, para espanto de todos, seu noivo ligou  confirmando a morte do pai.

imagem ilustrativa. Fonte: http://obscurumvitae.blogspot.com.br/2010/10/algernon-henry-blackwood-o-homem.html
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